Direções através dos Termos*

por Patrícia Azenha Henriques - membro nº 12



Os termos são dignidades essenciais dos planetas atribuídas em função da divisão desigual de cada signo em 5 partes. Os planetas que regem termos são Saturno, Júpiter, Marte, Vénus e Mercúrio. Os luminares não regem termos.

Na obra de Claudius Ptolomeu, Tetrabilos, Livro I, Cap 20 e 21, são referenciados os termos egípcios, caldeus e os do próprio Ptolomeu. Os termos de Ptolomeu variam ligeiramente conforme a edição do livro ou utilização por outros autores posteriores, provavelmente por deficiência de tradução. Os termos mais utilizados ao longo do tempo têm sido os termos egípcios.

A soma dos termos atribuídos aos 5 planetas é importante e constitui os anos maiores atribuídos a esses planetas, Saturno 57, Júpiter 79, Marte 66, Vénus 82, Mercúrio 96. Os anos dos Planetas são utilizados no cálculo da longevidade.

O planeta quando está nos seus termos é como se estivesse na sua propriedade, pode estar num signo que lhe é mais adverso, mas dentro da sua propriedade tem poder. Um planeta nos termos de um maléfico assume características menos positivas, assim como um planeta nos termos de um benéfico assume características mais positivas.

No sistema geral de pesagem das dignidades essenciais dos planetas, aquele que estiver nos seus termos recebe 2 pontos. Embora esta pontuação não reúna consenso, é a mais utilizada.
Tabela 1 – Termos Egípcios

As Direções através dos termos são um método preditivo na Astrologia, que utilizando o princípio base das Direções, 1º=1 ano, quando utilizada a conversão de Ptolomeu, divide diversos períodos da vida e atribui-os aos planetas regentes dos termos, a partir do ascendente.

O momento do nascimento e o ascendente definem o início do primeiro período, que termina quando muda o regente dos termos.

O método consiste em primeiro lugar, em calcular em que termos se encontra o ascendente. De seguida, verificamos os graus em que muda o regente dos termos nesse signo e nos signos seguintes. Paramos até chegarmos a uma data previsível da duração da vida da pessoa, pois não valerá a pena calcular para além disso.

Quando dizemos que 1º = 1 ano estamos a falar de graus de longitude da eclíptica convertidos em ascensão reta ou ascensão oblíqua, conforme o caso.

Para melhor exemplificar este método apresentamos o mapa natal para as 11h08, 19 Outubro 1972, Coimbra, Portugal.

Para uma maior facilidade de cálculo transforma-se a longitude do ascendente em longitude universal ou absoluta e constrói-se a tabela das direcções através dos termos dessa forma.

Longitude do ascendente = 4º32’ de Sagitário = 240º+ 4º32’ = 244º32’ (Longitude universal)

O ascendente está nos termos de Júpiter, como podemos observar pela Tabela 1, segundo os egípcios.

1ºperíodo - 4º32’ a 12º Sagitário = 244º32’ a 252º – termos de Júpiter

2ºperíodo - 12º a 17º Sagitário = 252º a 257º - termos de Vénus

3ºperíodo - 17º a 21º Sagitário = 257º a 261º – termos de Mercúrio

4ºperíodo - 21º a 26º Sagitário =261º a 266º – termos de Saturno

5ºperíodo - 26º a 30º Sagitário = 266º a 270º – termos de Marte

6ºperíodo - 0º a 7º Capricórnio = 270º a 277º - termos de Mercúrio

7ºperíodo - 7º a 14º Capricórnio = 277º a 284º - termos de Mercúrio

8ºperíodo - 14º a 22º Capricórnio =284º a 292º - termos de Mercúrio

9ºperíodo - 22º a 26º Capricórnio = 292º a 296º- termos de Mercúrio

10ºperíodo - 26º a 30º Capricórnio =296º a 300º - termos de Mercúrio

E assim sucessivamente seguindo a ordem dos signos e os termos correspondentes.

Os graus referidos são de longitude na eclíptica, que têm que ser convertidos em graus de ascensão oblíqua, para poderem ser subtraídos, para calcular o arco de direcção que corresponderá à regência dos termos de cada planeta e traduzir esse arco de direcção em tempo, com a conversão 1º=1ano.

 Para o cálculo precisamos dos seguintes dados:

a) Inclinação da eclíptica (valor constante = 23,5 (valor decimal)) (IE);

b) Latitude do local de nascimento (LN) – neste caso Coimbra está a 40ºN12’ = 40,2 (valor decimal)

c) Ascensão Recta do Meio Céu (ARMC) – fornecida pelos programas de astrologia de uma forma directa ou em alternativa fazer o cálculo através do Tempo Sideral local, que é um valor em horas, minutos e segundos e que tem que ser convertido para graus, onde cada hora equivale a 15º. Neste caso é 171º33’.

1º Calcular a Ascensão Oblíqua do ascendente (AOasc)

AOasc= ARMC + 90º = 171º33’ + 90º = 261º33’


2º Calcular a Ascensão Oblíqua do grau inicial de cada um dos períodos seguintes

AO2=AR2 – DA2

Em que AO2 é a ascensão oblíqua do grau do início do 2º período, AR2 é a ascensão reta do grau do início do 2º período, DA2 é a diferença ascensional do grau do início do 2º período.

Se a longitude absoluta (Long) for inferior a 90º

AR = tan-1(cos IE x tan Long)

 Se a longitude absoluta (Long) estiver entre 90º e 270º

 AR = 180º + tan-1(cos IE x tan Long)

 Se a longitude absoluta (Long) for superior a 270º

 AR = 360º + tan-1(cos IE x tan Long)

Neste caso a longitude do 2º período (Long2) é igual a 252º e por isso a fórmula a utilizar é a segunda apresentada, entre 90º e 270º:

AR2 = 180º + tan-1(cos IE x tan Long2) = 180 + tan-1(cos 23,5 x tan 252)

AR2 = 250,490

Falta-nos ainda o cálculo da DA, diferença ascensional, que se fará através da seguinte fórmula:

DA2 = sin-1 ( tan DP2 x tan LN)

Em que LN é a Latitude do local de nascimento e DP2 é a declinação do grau do início do 2º período e calcula-se através da seguinte fórmula:

DP2 = sin-1 ( sin IE x sin Long2)

Então teremos:

DP2 = sin-1 ( sin 23,5 x sin 252) = - 22,286

DA2 = sin-1 ( tan (-22,286) x tan 40,2) = -20,264

AO2=AR2 – DA2 = 250,490 – (-20,264) = 270,754 = 270º45’


3º Calcular o arco de direcção para determinar a idade em que começa cada período.

O cálculo é realizado sempre em relação ao ascendente, assim teremos para o início do 2º período:

ADp (arco de direcção do período)

AD1= AO2 – AOasc = 270º45’ - 261º33’ = 9º12’ = 9, 2

Como 1º=1ano, corresponde a 9 anos, 2 meses e 12 dias.

Desde o nascimento e até aos 9 anos, 2 meses e 12 dias, o período é regido por Júpiter.

Júpiter está na casa 2 e rege o ascendente e a casa 4, será um período marcado pelos bens materiais e auto-estima, com origem na própria pessoa, o seu corpo e também na família. Júpiter está em queda, o que indica algumas dificuldades e menos abundância material, assim como problemas de auto-estima.

Para calcular a idade do início do 3º período e assim analisar o período regido por Vénus seguimos os mesmos passos (exceto o 1º que é comum a todos):

 AR3 = 180º + tan-1(cos IE x tan Long3) = 180 + tan-1(cos 23,5 x tan 257)

AR3 = 255,870

DP3 = sin-1 ( sin IE x sin Long3) = sin-1 ( sin 23,5 x sin 257)

DP3 = -22,863

DA3 = sin-1 ( tan DP3 x tan LN) = sin-1 ( tan (-22,863) x tan 40,2)

DA3 = -20,875

AO3=AR3 – DA3 = 255,870 – (-20,875) = 276,745 = 276º45’

AD2= AO3 – AOasc = 276º45’ - 261º33’ = 15º12’ = 15, 2

Que corresponde a 15 anos, 2 meses e 12 dias.

Desde os 9 anos, 2 meses e 12 dias até aos 15 anos, 2 meses e 12 dias, o período é regido por Vénus.

Vénus está na casa 9, conjunto ao MC e rege a casa 6 e 11. Vénus está em quadratura a Saturno na 7, em oposição à Lua na 3 e em sextil a Mercúrio na 12. Foi um período marcado pela imagem pública, divórcio dos pais, e separação do irmão, a grande importância dos amigos e grande preocupação com a imagem pública, a aparência.

E faríamos da mesma forma para todos os períodos seguintes.


Uma forma mais simples de calcular à mão os diversos períodos é recorrer a tabelas1 que nos indicam a ascensão oblíqua, de acordo com a latitude do lugar. Nestes casos simplesmente temos que calcular a Ascensão Oblíqua do Ascendente e subtrair os valores retirados directamente das tabelas, para determinar os períodos. No final fazer a conversão de graus em tempo. É possível que haja uma diferença de dias entre os dois tipos de cálculos, dependendo do número de casas decimais consideradas e devido à necessidade de fazer uma ou mais interpolações.

Para exemplificar com o mesmo mapa, calculamos o início do 2º período, já calculado anteriormente pelo método descrito, aproveitando para verificar os valores obtidos.

Partindo da Latitude do Lugar 40,2, e como normalmente as tabelas existentes são para determinados graus de Latitude, por exemplo, 0º, 10º, 20º, 30º, 40º, 50º, vamos ter que interpolar os valores das tabelas entre a Latitude 40º e a Latitude 50º, como vemos na tabela abaixo.


Tabela 2 – Ascenção Oblíqua para o signo de Sagitário nas Latitudes +40º e +50º


O início do 2º período, regido por Vénus, é 12º Sagitário. O valor da Ascenção Oblíqua será:

Latitude 40º => 12º Sagitário = 270º33’ = 270,55

Latitude 50º => 12º Sagitário = 279º38’

Para a Latitude 40,2º teremos

279º38’-270º33’ = 9º05’ = 9,083

50º - 40º = 10º Latitude

Fazendo a interpolação, calculamos o valor x que será somado ao valor da AO à latitude 40, para obtermos a AO do lugar:

10º * x = 9,083 * (40-40,2) => x= 0,18

AO2 (40,2) = AO (40) + x = 270,55+0,18 = 270,73 = 270º44’

No restante seguíamos o procedimento igual para calcular o período através da conversão 1º=1ano. Este resultado dá-nos uma diferença de 1’ em relação ao calculado anteriormente (270º45’), que corresponde a uma diferença de 6 dias, que não terá grande importância na prática.


Existem programas de astrologia que fazem este cálculo automático, embora, como em todas as formas de cálculo manual ou automático, variem nas conversões utilizadas e aproximações.

Aqui foi utilizada a conversão de Ptolomeu, mas existem outras conversões. O cálculo é igual em todas, simplesmente varia o valor em tempo que deriva da utilização da conversão.

Guido Bonatti, no seu livro Liber Astronomiae fala-nos do método de Direcções através dos Termos e indica-nos que se trata de um método preferencial para determinar o estado da vida da pessoa, principalmente nos primeiros anos de vida. É também possível determinar quando a vida da pessoa será ameaçada.

Este método permite-nos prever como será a vida da pessoa, de uma forma geral, durante os diversos períodos regidos por cada um dos planetas que regem termos. É importante analisar a sua posição por casa, as casas que rege, os aspectos que faz e recebe e sobretudo avaliar as suas dignidades/debilidades essenciais e acidentais.

Ao longo da vida da pessoa esta será regida por diversas vezes pelo mesmo planeta, mas a interpretação não será a mesma por diversas razões.

Uma das razões é que o regente dos termos actua de acordo com o regente do signo em questão, se é um benéfico ou um maléfico. Por exemplo, os termos regidos por Vénus entre os graus 12º e 17º de Sagitário, que é regido por Júpiter, será diferente dos termos de Vénus entre os graus 14º e 22º de Capricórnio, regido por Saturno. Num signo de Júpiter a vida da pessoa estará mais protegida, haverá mais abundância, pelo contrário, num signo de Saturno a vida da pessoa estará mais sujeita a restrições, obstáculos. De igual modo quando se tratam dos termos de um maléfico, o facto deste estar num signo de um benéfico, como por exemplo os termos de Saturno em Sagitário, vai fazer com que o efeito de Saturno seja minimizado pelo efeito de Júpiter.

Outra razão a considerar são os aspetos dos planetas do mapa natal aos termos em questão. Quando se analisa o período que corresponde a um determinado planeta regente dos termos, temos que ver se existem planetas que formem aspeto com os termos, ou que estejam nos próprios termos. Analisar em que casa está este planeta, as casas que rege e o tipo de aspeto que faz é importante e acrescenta informações importantes à interpretação.

Para detalhar a interpretação também se conjuga com esta análise direcções primárias do Hyleg, o dador da vida, (está fora do âmbito deste artigo o seu cálculo) aos planetas que aspetam os termos, se coincidirem com o mesmo período podem ser significativos na interpretação e permitem calcular datas mais precisas para a ocorrência de eventos importantes da vida da pessoa.

O método de Direcções através dos Termos deve ser utilizado com outros métodos preditivos, dos quais se destacam, as direcções primárias, profeções e revoluções.
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1 Um dos exemplos onde se podem encontrar tabelas de Ascensão Oblíqua para as diversas Latitudes é na obra de Richard Fitzpatrick, “A Modern Almagest”.



*Artigo publicado no Jornal Astrológico da ASPAS – Nº2 - Outubro a Dezembro 2012 - pág. 31

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