por João Medeiros- membro nº 19
O Mapa Astrológico é um todo biográfico. Em cada casa escreve-se a
história dos desafios da nossa vida, nas diversas etapas de crescimento.
Autores como Rudhyar(1), Ruperti(2) e A.T.Mann(3) desenvolveram de
forma muito interessante este conceito holístico, particularmente, este último
uma vez que integrou também a fase da gestação na leitura do mapa. A abordagem
que se segue é uma síntese destas visões modernas e psicológicas de
interpretação astrológica, mas adaptadas à minha própria investigação como
astrólogo e, portanto, com alguns ajustamentos ao nível das idades e processos
de cada casa.
Esta visão é muito útil para qualquer astrólogo ou estudante de
Astrologia, porque promove o desenvolvimento da sua intuição, a partir de um
suporte muito completo, integrado e psicologicamente profundo, com ganhos
evidentes no processo auto-terapêutico e na relação com o cliente.
A PAIXÃO
A Casa 8 representa o estado relacionamento do casal (nosso pai e mãe)
antes da conceção, ou seja, os desafios que estariam a viver, as cedências e
paixões, a harmonia ou os problemas, bem como a sua sexualidade como casal.
Também pode indicar o estado emocional da mãe, antes da época da conceção.
Astros como Saturno indicarão uma tendência para uma fase algo dura ou
distante do relacionamento entre ambos, ou uma fase de solidão da mãe antes de
conhecer o futuro companheiro. Astros como o Sol indicarão uma fase feliz de
alegria e paixão, mesmo que com o domínio de um em relação a outro.
A CONCEÇÃO
A Casa 9 retrata relativamente bem a fase da conceção, como estariam os
pais nessa altura, se foi uma conceção difícil ou espontânea, quem seria o
progenitor com mais vontade, se os pais (e sobretudo mãe) estavam numa altura
alegre e feliz das suas vidas, ou a desenvolver cumplicidade. Por exemplo,
Júpiter colocado nesta casa indica um ambiente de conceção com bastante liberdade,
aventura e alegria.
Como as casas formam um eixo, é importante também reparar nos planetas
na Casa 3, já que acrescentam informação sobre o ambiente do quotidiano dos
pais nesta fase.
A GRAVIDEZ
A Casa 10 representa a forma como a gravidez foi reconhecida e aceite
pela mãe, normalmente, com cerca de 1 a 2 meses de gravidez. Planetas como
Vénus sugerem que se sentiu muito feminina e que gostou da “notícia”, ficando
mais encantada.
Planetas como Marte podem indicar a existência de alguma raiva ou
conflito interior, motivado pela posição do pai ou pelo excesso de atividade
que a gravidez implicaria na vida da mãe. Plutão pode sugerir a possibilidade
de aborto. Completando o eixo, a Casa 4 estará mais associada à reação do pai
ou da família paterna quando tiveram a consciência que a gravidez estava em
curso.
Estas primeiras impressões serão revividas mais tarde, depois do
nascimento e também na vida adulta, nas relações parentais.
A SOCIEDADE
A Casa 11 associa-se à fase em que a barriga da mãe está já em
crescimento acelerado, sendo impossível disfarçar a gravidez perante a
sociedade. Corresponde sensivelmente à fase entre os 3 e os 6 meses de
gestação. Surgem aqui naturalmente questões de curiosidade e de um certo
mexerico social e familiar, bem como expectativas e necessidade de dar algumas
respostas ao exterior: quem é o pai; se o bebé é menino ou menina; como está a
relação; como pretendem viver agora, etc. A futura mãe é desafiada a interagir
socialmente de outra forma, a ser alvo de atenções e a discernir a qualidade de
compromisso social que tem com o pai da criança.
A casa 5 forma um eixo com a Casa 11, revelando também como a mãe viveu
o namoro, a sua liberdade pessoal e o seu prazer sexual, nesta altura de
gravidez. Por exemplo, astros como Mercúrio nestas casas sugerem uma certa
neutralidade emocional e boa comunicação social, nesta fase.
O REPOUSO
A Casa 12 corresponde aos últimos meses de gravidez, dos 6 aos 9 meses aproximadamente,
em que a vigilância tem que estar mais ativa, pois o parto pode acontecer a
qualquer momento. Nesta altura, recomenda-se o repouso da grávida, o seu
recolhimento e atenção médica ou familiar, para que não esteja sozinha num momento
de urgência. Surgem obviamente alguns medos físicos pela aproximação do grande
momento, bem como ansiedade e grande expectativa. Astros como a Lua, revelarão
alguma insegurança e carência nesta fase da gestação, por exemplo.
No seu lado oposto, a Casa 6 indica como a Mãe se sentiu no seu próprio
emprego e como seguiu as indicações de cuidados necessários para esta fase,
como a alimentação, sono, horários, e se sentiu ou não fisicamente condicionada
nessa fase final de gravidez.
O PARTO
A Casa 1 traduz, como é mais sabido, a experiência do parto, a reação
dos pais ao nascimento do filho (sua aparência, sexo e condição de saúde) e a
atitude perante a criança até cerca seus dois primeiros anos de vida. Toda esta
energia é fulcral na delineação do caráter futuro da personalidade que acaba de
nascer. Por exemplo, Marte no ascendente é muito frequente em situações em que
o sexo do bebé contraria o que era claramente desejado por um dos pais – há uma
zanga inconsciente para com a criança - enquanto que o Sol sugere ter sido bem
recebido, com alegria e orgulho. Estas impressões vão influenciar muito da
atitude perante a vida, mais tarde.
A Casa 7 opõe-se à Casa 1 e retrata o relacionamento entre os pais
nessa época pós-parto, nomeadamente, se foi melhorado, reforçado ou dificultado
com o nascimento da criança. Júpiter ou Vénus aqui colocados sugerem um reforço
do amor e da liberdade entre o casal, enquanto Marte e Saturno uma possível
separação, conflito ou afastamento emocional. Estes fatores têm repercussão
inconsciente pela forma como o adulto, mais tarde, vive e confia nos
relacionamentos.
O ALIMENTO
Os signos e planetas na Casa 2 dão indicações sobre a segurança sentida
pelo bebé, aproximadamente entre os 2 e os 4 anos. A estabilidade dos pais para
com a criança, os horários alimentares e de sono, bem como a tranquilidade do
ambiente familiar serão fatores importantes nesta fase de vida. Aqui, é de
esperar que a criança desenvolva um sentido territorial e de posse em relação
aos pais e em relação aos seus brinquedos.
A Casa 8 opõe-se e representa as crises de atenção desta fase, pela
falta de tempo dos pais, devido a questões de trabalho, financeiras, educação
de irmãos, ou devido ao próprio envolvimento emocional e sexual entre os pais.
A ESCOLA
De seguida, surge a Casa 3 que representa os desafios associados às
idades de entrada na escola, concretamente entre os 4 e os 7 anos. Nesta etapa,
é natural um maior contacto com o espaço exterior, sejam os transportes, a rua
ou a própria escola, em que são desenvolvidos contactos com outros pares (os
colegas), em que é também desafiada a aprendizagem e a sociabilização, para
além da esfera familiar.
À Casa 3, opõe-se a Casa 9 que representa os princípios educativos
paternos e impacto de professores ou mentores familiares na educação da
criança. Como sempre, astros com significados mais fluidos facilitam toda esta
etapa, enquanto que astros de dificuldade vão criar aqui alguns obstáculos
necessários ao desenvolvimento da consciência pessoal.
A FAMÍLIA
Entre os 7 e os 14 anos, desenvolve-se uma etapa de consolidação ou
consciência de toda a dinâmica familiar mais global. É a fase da Casa 4, em que
são absorvidos a um nível mais consciente os modelos parentais, uma vez que a
mente está bastante mais madura e desperta. A funcionalidade da família
torna-se fundamental, uma vez que surgem aqui questões de mudança de identidade
com o início da puberdade, que acarreta também alguns desafios de autoridade.
Esta Casa complementa-se com a Casa 10 em que se entende melhor o papel
social e profissional de ambos os pais. Como sempre, as influências nesta etapa
da vida irão ressoar mais tarde, no conceito de família e de carreira do
indivíduo.
A SEXUALIDADE
A Casa 5 associa-se à etapa entre os 14 e os 21 anos, fértil na procura
de liberdade, do romance e da vida boémia. A expressão da sexualidade assume
aqui grande importância, bem como uma certa irreverência e busca de
independência, com os olhos postos na exploração do novo campo sentimental e
sensorial. É uma altura de desporto, de dança e de muita vitalidade física.
Astros como o Sol aqui colocados favorecem a vivência desta etapa.
Esta casa opõe-se à casa 11 que está associada à vivência dos grupos de
amigos e de à sociabilização mais adulta, como os jantares, as festas, as
reuniões, e manifestação social dos compromissos amorosos.
O TRABALHO
A Casa 6 representa o trabalho humilde e está associada, na minha
opinião, à altura de vida entre os 21 e os 28 anos em que quase todas as
pessoas são confrontadas com os desafios materiais da independência.
Naturalmente, após uma fase mais louca da Casa 5, aparece a Casa 6 que pede
alguma disciplina e humildade perante as autoridades para quem trabalhamos ou
nos relacionamos.
É uma altura de algum sacrifício e que pede organização e competência,
na gestão do dia-a-dia. No lado oposto, a Casa 12 retrata as necessidades de
fuga à realidade, nesta etapa, e procura de um sentido mais profundo para a
vida, do que uma rotina mecânica. Podem surgir aqui tendências destrutivas ou
escapistas, bem como a valorização maior dos períodos de descanso e retiro,
como os fins-de-semana, as férias, as noites, e o lazer.
O CASAMENTO
A Casa 7 associa-se à etapa entre os 28 e os 42 anos, em que
desenvolvemos um sentido mais equilibrado, consciente e adulto de
relacionamento com os outros, após a ascensão do Ego (casa 5) e queda do Ego
(Casa 6). É uma altura em que definimos os nossos verdadeiros casamentos de
vida, seja uma relação, um trabalho, uma família, ou todos os fatores em
simultâneo.
No lado oposto, temos a Casa 1, daí esta etapa ser uma oportunidade
grande de auto-consciência, identidade, e definição do verdadeiro caminho
pessoal, com livre-arbítrio. É importante que o ser humano tome aqui decisões
significativas, em verdadeira consciência de si.
A CRISE
Depois dos 42, na fase da Casa 8, despontam aqui desafios
verdadeiramente transformativos. Naturalmente, devido à inflexão da curva de
vitalidade aparecem questões de auto-estima e, consequentemente, de segurança
no relacionamento. Nesta etapa, entre os 42 e os 56 anos são normais os
divórcios, depressões, angústias financeiras e mortes de familiares (os pais).
Pode ser uma etapa de consciência de poder financeiro e emocional, ou
da sua falta, o que origina profundas crises psicológicas e até de saúde. Há
uma confrontação com as escolhas do passado, a proposta de uma grande
transformação de valores e mais altruísmo, por exemplo, em prol dos filhos, de
causas sociais ou simplesmente de uma maior intensidade de vida.
No lado oposto, a Casa 2 complementa este eixo, com uma noção mais
clara da auto-estima, da segurança material alcançada e da estabilidade
pessoal.
A EXCURSÃO
Voltando de novo à casa 9, depois de todo um grande ciclo, são
colocadas aqui necessidades mais existenciais e espirituais, que podem levar os
indivíduos a ler mais ou viajar mais, enquanto sentem ainda vitalidade física.
Esta fase, dos 56 aos 70 anos, é uma altura de reavaliação de vida e de educação
de princípios aos mais novos, nomeadamente, os netos. É uma boa fase para se
aplicar as poupanças de uma vida de trabalho, em viagens.
Esta casa, complementa-se coma casa 3, pelas situações de
reaprendizagem prática e intelectual que podem aparecer nesta etapa, seja por
vontade dos próprios ou por solicitação dos seus netos.
A ASCENSÃO
A Casa 10 estará relacionada com a fase entre os 70 e os 84 anos,
correspondentes à esperança média de vida nos países desenvolvidos. Existe
aqui, naturalmente, uma revisão das grandes realizações de vida, uma
clarividência maior do verdadeiro poder social (após as obras pessoais e
criativas terem amadurecido) e, idealmente, maior respeito público, devido à
idade alcançada. Pode surgir uma derradeira vontade de entregar mais
contributos sociais e, por exemplo, aplicar todo o património construído em
determinados projetos para o futuro da sociedade ou da família.
Esta casa complementa-se com a Casa 4, uma vez que nesta fase de vida,
o contexto familiar (filhos, netos, conforto doméstico) torna-se cada vez mais
importante para uma vida significativa e com qualidade.
...
Mais fases poderíamos delinear ainda mas, hoje, ficamo-nos por aqui.
Resta lembrar que detalhes como os planetas regentes de cada casa, bem
como os aspetos aos ângulos são também fundamentais nesta análise.
Bibliografia e Notas
(1) As Casas Astrológicas, Dane Rudhyar (1972)
(2) A Roda da Experiência Individual, Alexander Ruperti (1983)
(3) The Divine Life,
A.T.Mann (2002)
*Artigo publicado no
Jornal Astrológico da ASPAS – Nº2 - Outubro a Dezembro 2012 - pág. 7
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