O calendário Maia

Diário de uma astróloga – [41] – 19 de Dezembro de 2012
por Luiza Azancot - membro nº 15
O calendário Maia

No princípio de 2012 prometi que falaria do calendário e astrologia Maia e não quero faltar à promessa uma vez que só me restam 2 dias… Estava a brincar, porque não acredito na iminente inversão da polaridade dos polos ou da rotação do eixo terrestre, nem no choque com a Terra do planeta Naibiru. Também não acredito nos cenários luminosos em que humanidade deixa de guerrear e ficamos em comunhão com Natureza como os Na’vi do filme Avatar. 

Recentemente li uma sondagem da Reuters em que 10% dos entrevistados acreditavam que em 21-12-2012 a Profecia Maia será revelada.  Como não sou escorpiónica com apetência para cenários apocalípticos nem neptuniana ansiando por uma visão idealística do mundo, venho duma forma lógica e realista compartilhar factos e desfazer mitos. 

Factos: 
• Os Maias eram excelentes matemáticos, calendaristas, astrónomos e praticavam astrologia divinatória. As fronteiras entre estas disciplinas eram esbatidas. 
• O Códex de Dresden fala de um calendário de 260 dias, Tzolkin, com fins astrológicos e divinatórios que se desenrolava ao mesmo tempo do calendário civil e solar de 365 dias, Haab. 
• O Tzolkin baseia-se em 20 dias com nomes e qualidades próprias, cada dia regendo um parte do corpo humano e 13 períodos de tempo, “trecenas”, com significado parecido com os signos zodiacais. Estas 260 (20x13) permutações constituíam a base do horoscopo. 
• Além do Tzolkin os Maias consideravam outros períodos: 
o 1 uinal= 20 kins (dias) 
o 1 tun = 18 uinals (360 dias) 
o 1 katun = 20 tuns (7.200 dias = 19.7 anos) 
o “short count” = 13 katuns (93.600 dias = 256 anos ) 
o 1 baktun = 20 katuns (144.000 dias= 394 anos) 
o 1 época da criação ou “long count” = 13 baktuns = 260 katuns (5.125 anos) 

• A cosmologia mesoamericana fala de 5 épocas de criação = 25.625 anos, conceito no centro da Piedra del Sol dos Aztecas. 
Museu Nacional de Antropologia da Cidade do Mexico 

Algumas relações entre o calendário e os ciclos cósmicos: 
  • Não se conhecem as razões da repetição do 20 e do 13 mas 260 dias tem correspondências interessantes:
9 lunações (29 x 9) = período de gestação humana = 261 dias.
Vénus permanece como estrela da manhã ou como estrela da noite durante 263 dias consecutivos. Vénus era muito importante para os mesoamericanos que tinham uma mitologia e interpretações para o ciclo astronómico deste planeta.
9 tzolkins são iguais a 20 ciclos sinódicos de Mercúrio (117 dias), quatro ciclos sinódicos de Vénus (584 dias) e três ciclos sinódicos de Marte (780 dias).

• O katun assemelha-se muito ao ciclo de Júpiter /Saturno. Bruce Scofield, grande especialista de astrologia mesoamericana, com quem estudei, suspeita que os Maias viam no katun a expressão perfeita deste ciclo que ainda de hoje em dia é relevante nos sincronismos da astrologia mundana. 
• O total das 5 criações é um período parecido com o da precessão dos equinócios. Especulações 
• No pouco que nos chega dos Maia, uma vez que os Espanhóis destruíram quase tudo, não há nenhuma indicação do mundo acabar. Quando um ciclo acaba, começa outro. Uns senhores New Age que já nos anos 80 venderam muitos livros sobre “convergência harmónica”, decidiram publicitar a Profecia Maia que não é mais do que a interpretação errada de um sistema complexo de registo de tempo. Venderam-se milhares de livros, fizeram-se filmes e falsos profetas ganharam dinheiro. 
• Os ciclos devem estar ancorados em qualquer coisa astronomicamente estável. O que parece lógico é que o ponto de ancoragem seja o solstício de inverno, isto é, 21 de Dezembro … mas de que ano? Quando é que começou este ciclo para se saber quando acaba? Os arqueólogos pensam que foi em 3113 ou 3114 AC, o que somando 5.125 pode dar ou não 2012…. conforme o cálculo tenha sido feito na base do calendário juliano ou gregoriano ou astronómico. E contaram o ano 0 ou não? Ninguém sabe porque os primeiros estudiosos desta matéria, Goodman, Martinez e Thompson usaram nos cálculos da data uma constante chamada GMT (muito imaginativos) de sua invenção…. 
• Diz-se (?) que este “long count” seria a última secção do ciclo de 5 épocas = 25.625 anos. Há 25.000 anos estávamos no fim de uma Idade Glacial… Quem é que começou a contar? Não confundir o FB, iphone, ipad com a Natureza • Os sacerdotes Maias contemporâneos intitulam-se “contadores de dias”, usam o calendário dos 260 dias ligado aos ritmos do cosmo. Têm uma vida simples respeitadora do mundo natural e já nem podem ouvir falar na “Profecia”. 
• O Ocidente entregue à tecnologia e consumismo está baralhado com alterações climáticas imprevisíveis, e completamente dissociado da natureza. Perdeu a ligação física e espiritual com o Universo e agarra-se a falsos profetas. 
• Estamos numa crise económica sincrónica com a quadratura ente Plutão e Úrano que nos obriga a reflectir sobre as nossas escolhas e a ter maior consciência do nosso papel na Terra. Dentro de poucos dias sairá o Jornal 4 Estações da Aspas com um número especial dedicado à Astrologia da Crise que aconselho a leitura. Estou mais confiante na energia de Plutão, Neptuno e Úrano para nos ajudar a introduzir as mudanças necessárias do que na Profecia Maia. Se coincidem, que assim seja! 

 astrocape@gmail.com

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