Luiza Azancot, Membro No.15
E que enormes
preocupações! Estas palavras foram registadas por Anne Frank no seu diário no
dia 5 de Abril de 1944. Estava com a sua família escondida num anexo de um
prédio devoluto em Amsterdão. A polícia nazi procurava judeus para os mandar
para campos de concentração o que era sinonimo de morte certa. A família Frank,
composta de pai, mãe e duas filhas era judia, originária da Alemanha mas
refugiada na Holanda desde que Hitler tinha subido ao poder em 1933.
Anne Frank recebeu como
presente de anos um caderno em branco no dia em que festejou o seu 13º
aniversário (12 de Junho de 1942). Poucos dias depois, ela e sua família
viram-se obrigadas a largar a casa onde habitavam, entaipando-se no esconderijo
onde permaneceram durante dois anos sem sair à rua.
Exprimir a sua
criatividade escrevendo o seu diário permitiu à jovem Anne encontrar um escape,
um refúgio para a insegurança e terror em que vivia.
Qualquer acto criativo
exige uma concentração que nos faz esquecer as preocupações do dia-a-dia porque
nos focamos inteiramente no que estamos a fazer. É a expressão única de quem
nós somos e em termos astrológicos é simbolizado pelo Sol.
Mercúrio é o planeta
que representa o poder de comunicação, a actividade mental. Anne Frank tinha o
Sol e Mercúrio em conjunção no signo de Gémeos, signo de que Mercúrio é
regente. Tinha uma fortíssima energia geminiana e por isso não admira que Anne
Frank tenha escolhido a escrita para se exprimir. Tinha poucas pessoas com quem
falar e o diário substituía o diálogo, a troca de ideias tão necessárias ao
signo ligado à comunicação.
Mas para compreender plenamente
a frase de Anne Frank tenho que explorar outra dimensão de Hermes/Mercúrio. Na
mitologia greco-romana ele era o mensageiro dos deuses que veiculava informação
não só entre eles mas também entre deuses e mortais. Era a única divindade capaz
de ir às profundezas escuras dos domínios de Hades/Plutão e voltar ileso. Todos
os outros deuses não se atreviam a ir tão fundo com medo de lá ficarem presos. Hermes
/ Mercúrio no seu papel de psicopompo acompanhava tanto os mortos como os vivos
ao mundo subterrâneo, isto é ao inferno. Umas pessoas ficavam lá e outras
voltavam à superfície depois de passarem por um mau bocado mas regenerados.
A tradução desta
mitologia em termos astro psicológicos significa que é através de processos
mercurianos – comunicação, escrita, psicoterapia falada – que descemos às profundidades
do inconsciente de forma a trazer para a luz do consciente assuntos que
julgamos enterrados, material reprimido, enfim os nossos monstros pessoais que
por vezes causam a nossa perda. Carl Jung afirmava que a funçao psicológica de
Hermes/Mercúrio era a de ser o mediador entre o inconsciente e o consciente, o
guia no mundo das trevas.
Os simbolos
astrológicos manifestam também no mundo material. A jovem Anne Frank não tinha
com certeza monstros no seu inconsciente mas verdadeiros monstros povoavam efectivamente
o seu quotidiano, ameaçavam arrombar a porta a qualquer minuto e arrastá-la
para os domínios de Hades/Plutão, os infernais campo de extermínio. O seu Sol e
Mercúrio em Gémeos foram o guia nesta jornada de dois anos e concederam-lhe através
da escrita as pausas do horror em que vivia, isto é, como ela diz com leveza, permitir-lhe “sacudir as suas preocupações”.
A última entrada no Diário
de Anne Frank foi registada a 1 de Agosto de 1944. Três dias depois foram descobertos
pela polícia. A família Frank foi
enviada para Auschwitz onde a mãe morreu de fome tendo Anne e sua irmã contraído
uma febre tifóide fatal em Bergen-Belsen em Março de 1945. Otto Frank
sobreviveu, recuperou o diário da sua filha e deu-o a conhecer ao mundo.
Hoje, no retorno de Úrano,
84 anos depois do nascimento da geminiana Anne Frank aqui fica uma reflexão que
completa o lado leve, divertido, aparentemente inconsequente do arquétipo Gémeos/Mercúrio.
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